domingo, setembro 05, 2010

Férias V : Maciçamente atacado

O meu amigo VE fora colega de curso do baixo dos Air nos idos de oitenta e distribuiu amáveis convites para os irmos ver ao Festival do Sudoeste, na poeirada da Zambujeira. Apreciei os Air: foram diáfanos e foram etéreos. Nalguns momentos relembrei os Space, banda sintetizadora que também produziu uns sucessos aí em 75 ou 76.

Fiquei para o número seguinte e teóricas estrelas principais: Massive Attack, que eu pensava que desconhecia mas conhecia, porque já ouvira o “Tear Drop” no genérico do House umas dezenas de vezes.

No que toca a música pop/rock, sou às vezes acusado de reaccionário das cavernas e de só apreciar velharia dos anos oitenta para trás. Protesto inocência. Oiço o que oiço, gosto do que gosto. E adoro ser surpreendido. Às vezes posso andar distraído, o que é diferente. Foi o caso no caso dos Massive Attack.

Há muito tempo que não ouvia nada que me enchesse tanto as medidas. Negrume. Obsessão. Calor e frio. Ritmo compulsivo. Melodia flutuante num mar repetido. Beleza da diferença, diferente da beleza. Política. Vou comprar os álbuns todos.

Para mais, nitidamente vocacionados para espectáculos ao vivo. O público agarrado, com excepção de um casalinho adolescente à minha frente que passou uma hora em mútua endoscopia, obrigando-me a algum contorcionismo para ver o palco. Deve ser da alimentação, mas os putos hoje em dia são altos. E saudavelmente sôfregos, louve-se o Senhor.

Uma estética de palco belíssima, com um jogo de luzes e textos que me lembrou uma instalação permanente da Jenny Holzer no Guggenheim de Bilbao. Ao longo das diversas músicas, letras e números brancos e vermelhos, garrafais, davam-nos conta do estado das coisas no nosso atormentado planeta. Por exemplo, uma linha dizia: “número possível de dias preso sem ser apresentado a um juiz”. Por baixo, os dígitos rodopiavam até se imobilizarem num “Suécia: 1”. Depois num “França: 2”. “Reino Unido: 45”. Até explodir num branco intenso: “Estados Unidos: INDEFINIDO”.

E assim sucessivamente, para os litros de água gastos, para os rendimentos “per capita”, para as tropas no Afeganistão. A estatística como militância. Grande e feroz. Nada solta menos a canela que a mandíbula dos números.

Massive Attack. Como vês, NF, eu sei que há vida depois dos noventa. Como abaixo se demonstra.


5 comentários:

NunoF disse...

Mais vale tarde do que nunca :)
como te disse os anos 90 têm muita coisa boa por descobrir. E começar pelos Massive Attack é um grande começo :-)

Os senhores só têm 4 Álbuns por enquanto (deve sair o 5º ainda este ano)

A saber:
• Blue Lines - 1991
• Protection - 1994
• Mezzanine - 1998
• 100th Window - 2003

NunoF disse...

Uma correcção, o 5º álbum - Heligoland - afinal já saiu :-)

PW$$$ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PW$$$ disse...

Se gostaste, experimenta ouvir esta versão do Karmacoma:

http://www.youtube.com/watch?v=k9xb3BR6KuY

Genial!

Abçs.

Unknown disse...

Ainda bem que gostaste. E fico ainda mais contente de saber que (re-)descobriste uma das grandes bandas dos anos 90 (ou será que não são só dos 90, e ser um dos casos raros de "intemporalidade" que de vez em quando desperta no panorama musical...).
Fica aqui uma nota para mais quando houver.
Um abraço.
VE