terça-feira, outubro 12, 2010

A casa meretrícia do Gogol


Dizia o velho Mata, referindo-se a certos agrupamentos políticos, que pelo andar da carruagem se vê quem lá vai dentro. Aplico muito essa máxima na aquisição de livros e discos: compro por impulso, pela pinta do invólucro. Aliás a música é palavra feminina, por isso extrema o cuidado com a aparência para melhor seduzir. Boas capas nem sempre significam boa música, mas quem faz boa música não se contenta com uma capeca qualquer. Às vezes nem têm que ser grandes: basta que pisquem o olho. De vez em quando enfio barretes até ao calcanhar, mas felizmente vou não resistindo, com mais sucessos que fracassos.


Ontem fui à FNAC trocar dois “Massive Attack” que o amigo PW me oferecera de aniversário pelas minhas


[ ] 21

[ ] 22

[ ] 23

(marque com um X a resposta certa)


primaveras. Desconhecia ele o meu poder de antecipação: cumprindo promessa aqui feita, já os tinha comprado todos.

Levei em câmbio um Rigoletto, versão integral da Deutsche Grammophon com o Plácido Domingo como duque de Mântua, a preço de saldo e quando procurava a segunda troca dei com uma coisa chamada Gogol Bordello. Gostei da composição da capa e do ar marialva do bacano nela constante. Fiquei interessado. E depois lembrei-me que o meu pai se gabava, como quem fala com orgulho de uma cicatriz de guerra, de ter lido de fio a pavio os grandes chatos russos, entre os quais destacava Tchekov e Gogol. Era um sinal dos céus: venha!


Chegado a casa, quando mostrei as minhas compras, o meu júnior descartou com desprezo o Verdi para cima do sofá e ficou embevecido a olhar para o segundo: “compraste Gogol Bordello!”. Nesse momento subi quinhentos pontos na consideração dele, o que me permitiu ficar só em 12375 negativos.


O marialva da capa, líder da banda, chama-se Eugene Hütz e nasceu na Ucrânia. A banda é nova-iorquina e os músicos são ucranianos, russos, israelitas, etíopes, americanos, escoceses, equatorianos. Uma sociedade das nações a tocar música cigana enxertada em “Sex Pistols”. Vejam com os vossos próprios ouvidos:





Quando vim para aqui alinhavar isto, o rapaz disse-me: “Ouve Crystal Castles”. Assim fiz enquanto escrevia, cortesia do “Youtube”e gostei. Nisto de música andamos simbióticos: ele faz-me descobrir o brilho do presente e eu apresento-o às glórias passadas. De vez em quando leva um Focus ou um The Clash para o quarto ou para o “iPod”.

2 comentários:

Alex disse...

Posto isso resta-me aproveitar para ir conhecer de ouvido o rapaz que dá pontos na dura escala da consideração filial
e
fazendo uso da informação dar-te os meus sinceros parabéns por mais uma primavera cumprida
Bêju rapanicado na boxexá

Alex disse...

Achei graça ao "fundo" cigano do rapaz mas é um 'cadinho violento... Não ganharia muitos pontos, prefiro o Verdi, confesso.