sexta-feira, novembro 23, 2007

A vida eterna

Passados cinquenta anos
De mim
Que restará?

Uma fotografia esmaecendo numa prateleira
Com roupas de outra era
Numa felicidade passada
Decorando um “hall” de entrada
Entre um jarrão e uma salva
Com crianças a perguntar quem era

Talvez uma biblioteca,
Livros amarelecendo
Ocupando um recanto
Na casa de algum descendente
Que se lembrará que ainda existo
Quando diante de um livro surpreendente
Se admirar (Ele lia isto?)

Alguns genes, certamente
Aparecendo ocasionalmente
No desenho de um queixo
Ou no sorriso de um bisneto

Ao princípio, os mais velhos dirão
Sorri como o avô sorria
Mas chegará o dia
Em que os mais velhos partirão
E aí serei apenas sorriso e queixo
E, embora sendo, ninguém saberá que sou eu

2 comentários:

Cristina Rodo disse...

Oh my god... não me digas, aquela bronquite letal acabou por ganhar?!

Quem te diz a ti que vais ter direito a ir para o hall??! Eu cá para mim só te vêem o queixo quando forem chafurdar no caixotes a arrecadação... LOL

Agora a sério, "ashes to ashes, dust to dust", não tenhas dúvidas de que uma que outra geração são suficientes para "passarmos à história" e não quero dizer para dentro dos livros... LOL
Essa ideia é-me no entanto mais agradável do que a de ser "famoso" e ter uma data de idiotas, duzentos anos mais tarde, a cagar sentenças sobre quem fui eu, o que pensei, o que senti, o que fiz ou deixei de fazer e porquê.
Let bygones, be bygones...

PW$$$ disse...

Acho que não foi a bronquite letal: foi a suspeição, infundada, vil e torpe, de falta de cabelo.

Pelos vistos, isso põe as pessoas a pensar sobre a posteridade...