sábado, setembro 24, 2011

Férias (VI) – Segunda leitura

 
Sex and drugs and rock’n’roll
Is all my brain and body need
Sex and drugs and rock’n’roll
Is very good indeed

Ian Dury, in “Sex&Drugs&Rock’n’Roll”

Este foi o Verão das leituras pesadas. Depois das provações terríveis de uma humanidade cega (vide aqui), seguiu-se uma viagem aos abismos mais tenebrosos da trilogia sexo-drogas-rock’n’roll com “Please kill me”, subtitulado “The uncensored oral history of Punk”.  São quinhentas páginas de letra miúda exclusivamente com testemunhos de cerca de duzentas pessoas que viveram por dentro o “punk” americano, fenómeno essencialmente nova-iorquino. Compilaram Legs McNeil e Gillian McCain. 

São páginas deprimentes. No que nos é contado nada foi “very good indeed” como na paródia britânica de Ian Dury acima citada. O sexo era mecânico e sem amanhã, as drogas eram duras e sem liberdade e o “rock’n’roll” soava de uma violência sem destinatário ao lado da qual os Sex Pistols pareciam um chá das cinco (que por acaso até tomavam, como bifes que eram).

Esta história do “punk” vai muito atrás, muito antes da explosão britânica de 76. Começa em 1967 com Lou Reed, John Cale e os Velvet Underground no ambiente peneirento-intelectual da Factory de Andy Warhol e segue sobretudo com Iggy Pop e os Stooges, todos profetas antes da sua hora que criaram as raízes de um “rock” acerado, negro, exultante de negatividade e violência numa época em que paz e amor californianos dominavam as tabelas.

Depois esta semente medrou no momento apropriado, através de nomes como Tom Verlaine, Patti Smith, Richard Hell, Johny Thunders, Jerry Nolan ou Dee Dee Ramone, mas quase sem sair dos habituais clubes como o CBGB, até que um rapaz inglês dado à produção, Malcolm McLaren, viu, voltou à pátria e copiou, montando o seu produto à imagem e semelhança do que vira no “bas-fond” nova-iorquino: os Pistols. Como ele confessa aliás sem remorso em “The great rock’n’roll swindle”, em excertos como este:

- There was Steve Jones. Eighteen years of age. A brilliant cat burglar. I nominated him guitarist.

E acabou por ser no Reino Unido que o movimentou estourou em fama e abriu as portas a um renovar do “rock” dos dois lados do Atlântico, com muitos momentos gloriosos e imorredouros.

Mas “Please kill me” não fala apenas pela voz dos nomes que perduraram. Conta também a visão dos produtores, preocupados em espremer o potencial lucro de um produto potencialmente auto-destrutivo, das “groupies” que saltavam de leito em leito e de banda em banda até não ter mais para onde saltar senão para a sarjeta, dos poucos que, como o “stooge” Ron Asheton, apenas queriam tocar e olhavam de cima para o pantanal onde se moviam e de muitos que meramente enxameavam ao redor.

“Please kill me” acaba por ser uma leitura formativa sobre estranhos numa terra estranha que julgam ser a dos seus sonhos de adolescência mas que para muitos e sobretudo para os menos bem-nascidos acaba por ser um pesadelo lento, denso, amargado e terminando para alguns num beco. Honra lhe seja feita, vale pela franqueza.


1 comentário:

Cristina Rodo disse...

Confessa, escreveste este post numa de masturbação... ou então para o nosso amigo NF, vá...
Ou será que mais alguém o percebe?! lol
Deixa, não ligues, isto sou eu a sentir-me como se tivesse acabado de ler uma tese de física nuclear... lololol