segunda-feira, junho 13, 2011

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Como já aqui contado, em Junho de 2008 o meu pai fixou residência na sua terra natal, Vila Nova da Barquinha. Desde então tornei-me barquinhense de ocasião, deleitando-me com a vista do Tejo junto ao Cais Pombeiro, passeando pelos caminhos geométricos do Barquinha Parque ou pela pacatez das ruas desertas ao pino do sol, assinando o jornal Novo Almourol, deliciando-me na Tasquinha da Adélia com um bife com batatas fritas que não foram compradas na Makro, com o sabor pensava eu perdido que as nossas avós lhe sabiam dar, emocionando-me enfim à porta da sede do Sporting Clube Barquinhense, instituição decana de que meu avô foi sócio fundador como atesta um diploma que, encaixilhado a verde, está pendurado no escritório onde escrevo estas linhas.

Para mais, lá vou sabendo histórias das minhas raízes, sobretudo quando tenho a sorte de coincidir com os mais velhos. Numa terra de apenas 1400 habitantes, já terei ouvido em breve esse mesmo número de memórias contadas ora com saudade ora com riso.

Pois neste fim-de-semana, no dia 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e de tudo o mais, inaugurou-se no Centro Cultural de Vila Nova da Barquinha a exposição DaNação, da autoria do meu tio Luís da Mata, filho da terra, em que este usou como mote a bandeira nacional para uma sequência plástica, de pintura e instalação, que propõe uma reflexão sobre o caminho trilhado – sobretudo nos tempos mais recentes – pelo nosso país.

Vem a propósito esta exposição, porque passam no próximo dia 19 exactamente cem anos sobre a aprovação do actual modelo de bandeira pelo decreto 141 da Assembleia Nacional Constituinte, selecionada que foi, após concurso de ideias, por uma comissão a que pertenciam Columbano Bordalo Pinheiro, João Pinheiro Chagas e Abel Botelho.

Vem mais a propósito ainda porque a nação do símbolo passa por momentos de aperto que o símbolo da nação não deixaria suspeitar, com o seu verde “de esperança” e o seu vermelho, “cor combativa, quente, viril, por excelência (...) cor da conquista e do riso (...) cor cantante, ardente, alegre (...)”, nas palavras da comissão que a escolheu.

Não tenho a certeza de que a minha leitura do percurso exposto seja exactamente igual aquela que o autor tinha em mente quando produziu a obra. Conhecendo-nos a ambos, admito que não. Fica esta matéria para próxima conversa entre os dois.

Mas digo-vos e assim termino: vão, que vale a viagem e não só por orgulho de sobrinho. É uma visão inovadora, disruptiva e esteticamente apelativa sobre o nosso colectivo. Olhem, admirem, interroguem-se e pensem. E desfrutem, claro está.

1 comentário:

c.lameiras disse...

Como não pude estar presente na 6ª feira, zarpei ontem, dia de Santo António, rumo a Vila Nova da Barquinha para ver a exposição do teu tio.
Conhecia o tema e o conceito mas não deixei de ficar surpreendido pela força da instalação no espaço.
Achei um exercício magnífico de humor, ironia, sarcasmo e imaginação.
Algumas peças individuais são verdadeiros icons do estado DaNação, mas é o seu conjunto que a torna forte e inteligente.
As raízes do sal e da terra reforçam a genuinidade do Luís da Mata.
Por isso concordo com a tua sugestão:
Todos à Barquinha, sem amarras nem preconceitos.