segunda-feira, novembro 23, 2009

Exposição fotográfica (XX)

Este fim-de-semana fiz mais um curso de fotografia, já o terceiro, com o António Sá no Espaço João Sousa Valles, ao Restelo. Desta feita sobre fotografia de viagem. O António é professor por natureza, com o humor, a categoria, a sábia persistência, a proximidade, o prazer de dividir que só os grandes mestres põem no ensino. Sendo ele próprio viajante inveterado, nunca falha com uma boa história sobre a vertente humana que as suas voltas pelo mundo lhe vão permitindo descobrir. Nas suas próprias palavras: mais importante que as fotografias, são as vivências.


Quando em trabalho na Mongólia, onde passou dois meses a efectuar uma reportagem, o António pediu ao seu guia que lhe arranjasse, numa dada aldeia, muito pobre, uma família que o acolhesse durante uns dias para que ele visse como se vivia por essas bandas. Logo na primeira casa da aldeia, o assunto ficou resolvido. Não falava a língua deles, nem eles nenhuma que o António soubesse. Fotografou os hábitos dos seus anfitriões, partilhou as refeições, dormiu na divisão comum da casa, num canto onde por vezes lhe chovia em cima durante a noite, obrigando-o a mudar de sítio. De manhã, quando os mongóis viam o colchão num local diferente, faziam cara de espanto e passado um pouco António ouvia-os no telhado, tentando reparar a cobertura.


No último dia, quando António quis pagar a sua estadia, dando o mesmo dinheiro que lhe cobrariam num hotelzito noutro local da Mongólia, os donos da casa recusaram por mais do que uma vez, acenando com as mãos que não queriam. O António teve que insistir bastante até finalmente aceitarem esse dinheiro, pouco para os nossos padrões. Então, a mulher do casal pegou no dinheiro, saiu e voltou passado pouco tempo com umas botinhas para a sua filha, que até aí andava descalça.


Esta história diz muito sobre eles, mas mais sobre nós.


A aula prática foi na manhã de domingo, em Alfama, sujeita ao tema “um olhar diferente”. No fim de duzentos e dezoito cliques a minha selecção de cinco, para apresentar aos colegas e baseada no visionamento no LCD, foi a que se segue. Agora, depois de as ver ampliadas no ecrã, seria talvez outra.


Reflexo num Citroen DS, um boca-de-sapo, estacionado na Rua dos Remédios.


“Grafitti” em crioulo junto a uma laranjeira: no meu gueto manda quem lá está. Lembrou-me a do Marão, que mandam os que lá estão. Quando a maior parte dos “grafitti” não quer dizer nada, um que quer. Escadas entre a Rua dos Remédios e a Rua do Jardim do Tabaco.


Cores de Alfama em frente ao Beco dos Paus.


Um candeeiro, tradição de Alfama, na esquina da Rua de Santo Estêvão.


Nas vielas castiças de Alfama abrigam-se, ontem como hoje, dramas de solidão como o desta senhora, já visivelmente ébria, agarrada ao meio-dia a um litro de tinto, com o seu cãozinho preso ao banco. Uma vizinha passa e vai conversando, aceitando a situação como coisa habitual.

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